segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

SAIDEIRAS...

SAIDEIRAS...


2012 começou com  muita chuva, tempo fechado; e termina com muito sol, céu azulzinho...


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Foi Brasília, BH, muito Carangola; muito sentimento de pertencimento de planeta, de Brasil e de América Latina.


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Reencontrei e passei belos momentos com a família, com velhos amigos e amigas. Encontrei novas pessoas, afetos e amizades.
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Carinhei meus pais; muito. Recebi de volta, como sempre. Voltei, muito, para a raiz. Energia recebida e trocada.


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A família aumentou com um sobrinho lindo e sorridente nos lábios e nos olhos (da cor do céu).

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Viajei. Apertei os cintos nas turbulências - atento ao aviso. Voltei! "Viajar, mais que tudo, é retornar";  fraseou, sabiamente, Abgar Renault.




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Foi um período de encontro com novos mundos e de encerramentos de outros.                                          



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Reatei laços. Desfiz os que os que já estavam apodrecidos e senti o ar puro que ainda existe noutros recantos do planeta.
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Senti as perdas e comemorei muito as vitórias; as minhas e as coletivas. Gratidão pelas bençãos, pela união e ajuda das mãos amigas - as vezes invisíveis - "coisas desse universo invisível", como tuitou uma amiga muito especial e querida; maravilhoso, eu completo.
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Ouvi belas músicas, sons - inclusive os da natureza, o canto dos passarinhos, das àguas dos rios, das matas, do mar e de montanhas altas -; ouvi o silêncio - sobretudo o meu.


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Ainda assim, palavrei; sou um falante - com ouvidos atentíssimos: pelo telefone, olho no olho, prosa aberta, franca, sorridente, solta, leve, outras duras como e quando tem de ser. Pela internet, iniciei este blog. Tuitei, escrevi e respondi longos e curtos emails, facebookeei; troquei mensagens, recomendei, postei, curti, descurti, escrevi e debati - quando necessário. Conectei e me desconectei.


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Assisti bons filmes e me encantei e emocionei  bastante com o francês: " E se vivêssemos todos juntos?".


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Li alguns livros. Reli muito mais. Fazia tempo que eu queria isso. Reler é bom demais. Outro leitor. Outras leituras e fascinantes descobertas nos traços e marcas do que/como um dia já fora lido. 


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Voltei a cozinhar. Experimentei novas receitas e sabores. Voltei a sentir o gosto e cheiro de sabores da infância e da adoslescência/juventude.
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Cuidei da saúde física e espiritual, minha e dos meus próximos.
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Passei uma excelente e singular data no dia 12/12/12 - que não se repetirá para mim - junto e ao lado de pessoas muito amadas e queridas.
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Tive belas epifanias.
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Escrevi muitos rascunhos.
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Não vi meu time de coração erguer troféus durante o ano, mas fiquei feliz e esperançoso com a vitória, a posse e sobretudo o discurso de posse do novo presidente do clube que falou palavras diferentes - além do futebol...


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Me choquei, indignei, escrevi, tuitei e combati contra as sacanagens perpetradas com o dinheiro e as coisas  públicas no Brasil e no meu Estado; contra o espetáculo midiático e "mancheteiro" das grandes redes e corporações - que os "incautos" parecem ainda não terem aberto os olhos para o que realmente está em jogo.. ( Tempos de ódio?) "Derramento de bilis, não combina com a produção de neurônios", disse mansamente o ex- presidente e ministro do STF, Ayres Britto para um dos "jornalões" paulistas. Não são músicos, mas a orquestra toca afinada. Não são esportistas, mas fazem belas jogadas.  
                                                                            
Na minha aldeia - Carangola, foi eleito um prefeito que ninguém conhece. Mas como assim? É, isso mesmo... Quem o conhece é Pedra Dourada/MG, município vizinho de onde ele foi prefeito e agora elegeu sua esposa. O resto da história perguntem para a Justiça Eleitoral, ao Governo de Minas e principalmente ao Secretário de Governo Danilo de Castro e ao seu filho Rodrigo, Deputado Federal. Eles devem saber explicar. Nem eu, nem a maioria da cidade não sabemos; ainda. Mas nem por isso, deixarei de torcer para que ele faça um bom mandato justificando os votos recebidos dos carangolenses e dos que escolheram Carangola como sua terra e  honre os votos recebidos, a cidade, suas esquinas, sua gente, suas nuances, glórias e mazelas; sua História, que ele certamente não conhece.

                                                                               
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Falei que em 2012 foi muito Carangola. Se muita coisa boa que ocorreu não tivesse acontecido, esse reencontro já me bastaria para tornar o ano realizado. Participei por exemplo, novamente, neste dezembro do 26º encontro de final de ano da minha turma  - a "pelada de final de ano". Carangola não é Caratinga, que pariu Ziraldo. Mas é terra de muitos artistas, dos bons - mesmo - e pariu, entre outros, o Sandro Leal - violeiro, artista, frasista - que ao soltar uma de suas, no encontro da turma em julho: "Mulher Não é Homem Não", deu o tom e nome deste encontro de dezembro. Proponho - já que as pernas e as barrigas (dos homens, claro. As meninas continuam lindas.) não nos permitem correr os 90 minutos, que tomemos a bela/sábia frase do Sandro, que é Leal desde o nome, e façamos em 2013, vídeos, crônicas, pinturas, músicas, bloco de carnaval e o que pintar na cabeça da moçada que continua, amiga, unida, trabalhadora, debochada, bem humorada e pra lá de... criativa!!! 



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Entre as grandes "perdas" do ano - uma muita sentida foi a do gênio Niemeyer. Não escrevi aqui no meu espaço - que não é do Zuckerberg e é meu, por enquanto. Alguns bobocas, polemistas e até grandes amigos disseram suas impressões e críticas. Talvez não conseguiram ver as coisas além da reta e do quadrado, ou ainda vivendo com o "complexo de vira-lata", bem fraseado pelo Nélson Rodrigues. Eu o considero gênio: da arquitetura e da vida. Não me recordo o nome agora, mas disse um renomado artista europeu que depois da Renascença a arquitetura só viveu uma grande transformação que foi com Niemeyer... Concordo, inteiramente. Grande frasista e dono de fina ironia e sabedoria, perguntado certa vez sobre sua música predileta, o nosso gênio disse que era a daí debaixo, que encerra este  post, e que eu compartilho, sempre otimista, com fé no mundo e numa humanidade melhor, desejando a todos um feliz, harmonioso e abençoado 2013!  

Canta Canta Minha Gente!

   







terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Reconvexo (s) !!!



Liana, minha irmã, me mandou e relembrou: "Quem não rezou a novena de Dona Canô [...] Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo"





domingo, 16 de dezembro de 2012

VirandoMundos


VirandoMundos


                                           "Só quem passou a infância junto a um rio pode saber  
                                                                   o que rio significa para ele"
                                                                   Fernando Sabino, no "O Grande Mentecapto" 
     
  


Foi no último dia 30 de novembro - dia especial, digo logo de início - num fim de tarde. Voltei - fazia algum tempo - por convite - ao Território Livre José Carlos da Mata Machado - Pátio do CAAP, na Faculdade de Direito da UFMG, para a Assembléia Geral de transmissão e prestação de contas da Gestão "Lumiar" - 2011/2012 e posse da Gestão "Viramundo" - 2012/2013.

Nisto que costumamos chamar de coincidências, acontecia neste mesmo período, a marca temporal de 20 anos de encerramento da Gestão "Centenário" - 1991/1992 (nome dado em homenagem aos 100 anos da FDUFMG comemorados naquele ano de 1992). Gestão que fiz parte como dirigente do CAAP e que marcou o início da minha trajetória no movimento estudantil universitário, além, é certo, de ter me revelado outros olhares, pessoas, amizades, parceiros, adversários que se tornaram parceiros, parceiros que se tornaram adversários, lugares, sentimentos, outras faculdades na faculdade e na universidade.

Dois amigos que  fizeram parte daquela gestão de 1992 , Bernardo Lopes Portugal e  Ronaldo Noronha Behrens -  gestão que teve  e tem muita gente querida espalhada por esse "universo" e mundão dos homens e de deus -, também estiveram presentes naquela tarde.

Eu estava ali. Naquele tarde e naquele lugar que conheço tanto. Onde passei alguns dos melhores e também os mais desafiantes - para não dizer "cagaços" - da minha travessia. Onde vi as transformações físicas e geracionais do espaço acontecendo; como aluno e dirigente do CAAP em 1992 e 1994 e no restante da década como aluno. Depois, na primeira década deste século, como aluno de pós graduação e professor da escola.

Nesse período muita coisa mudou. O espaço físico. As gerações. Tudo muda. Muda?

A despeito de ter acompanhado a maioria das mudanças naquele território, fazia algum tempo que eu não pisava por lá. Não pude por exemplo estar presente na comemoração dos 100 anos do nosso CAAP  em cerimônia celebrada e festejada em 2008. Não sei porque, mas os organizadores e "donos" da efeméride acharam que eu e outros ex-presidentes e dirigentes não deveríamos fazer parte da festa. Tudo bem, agora, mesmo. Por conhecê-los, digo, aqui - pela oportunidade -, por mim e (acho) pelo amigos também "barrados na festa", (que se reuniram no velho Tizé e comemoramos o Centenário do CAAP com  philia , alegria triste e humor, que nos salva sempre), a là Mario Quintana: "Eles passsarão, (nós) passarinho". Fazemos parte da história! Eles também. Talvez não do mesmo tamanho... Que venha os 150!      

Mas, quero falar daquela tarde - começando por dizer que este texto demorou a sair, se perdeu e foi reescrito - coração mexido, talvez, por toda a história e as estórias revividas naquela tarde em que alunas e alunos da "Vetusta" se reuniram, ou melhor, se espalharam no Território Livre para em Assembléia Geral, (in) formalmente, debaixo de uma "tenda" montada no Pátio (digo isso, radiante e orgulhoso do que senti e vivi naqueles instantes, pois nunca tinha visto, nem sentido - em solenidades como aquela - um ambiente e clima tão "à vontade" - contagiante -  que não deixou em nenhum momento, de lado, a seriedade e a solenidade do ato), cumprindo o que dispunha a convocação e o estatuto do CAAP.

Além de nós, estavam também presentes, familiares, amigos e amigas, das e dos, ex e empossados caapianos, professores da casa, funcionários, estudantes de outras unidades, dirigentes de outras entidades e a diretora da faculdade - que não se sentou na mesa - (achei muito bacana; afinal, em assembléia de entidade dos estudantes quem compõe a mesa são os próprios estudantes, e somente eles).

Eu já disse que o espaço físico mudou. E foi bastante. Hoje mais colorido, grafitado, com pufs e sofás espalhados na sede, sala de reuniões e pelo pátio, televisão de plasma, vasos, jardins; menos cimento. As mudanças já haviam começado conosco nos anos de 1992, 1993, 1994 quando colocamos os primeiros tijolos, tintas e azulejos na reforma da cantina, dos banheiros e do nosso espaço. Continuaram  com as reformas dos prédios em 1998, quando o "aquário" foi enchido de cimento para virar um andar da biblioteca e o o pátio diminuído para dar lugar ao prédio da "frente de vidro".

Mudanças físicas que não atingiram o espírito e o simbolismo do Território Livre - o 3º andar do prédio novo - ocupado pelo CAAP , construído após a derrubada criminosa em 1958 - na "então" onda modernizante de BH - do velho casarão da Praça Afonso Arinos, e que acolhe e abriga desde então,  a nossa centenária e tradicional entidade estudantil brasileira.

Lembrei e senti falta, entre tantas coisas, naquela tarde, da quadrazinha de futsal no cimento "caracachento" - com as travezinhas tipo futebol de praia, que não cabe mais no espaço; bom para o joelho da moçada. Vi, e ouvi, que o som que eles tem no pátio é muito melhor. A tal tenda, onde a mesa da cerimônia de posse foi composta - com a bandeira e o símbolo do CAAP ao fundo - é muito bacana e multifuncional naquele espaço. Vi menos ternos e gravatas na moçada e menos tailleur nas meninas, mais camisas de malha, vestidinhos , bermudas e shorts, sandálias havaianas, calças jeans - inclusive na diretora e nos professores. A mudança boa, necessária, contemporânea, pois simbólica. Arejante nesse meio bolorento e pavônico que é a passarela jurídica.

A aumentar a singularidade dessa tarde de reencontro com o CAAP, com sua nova geração, com meus amigos e colegas de gestões -  mesmo os que não estavam lá e os que já se encantaram  - e comigo, colhi a foto que emoldura este post, que foi tirada naquela tarde de 30 de novembro. Esta cena é um dos olhares que eu trago guardado na minhas melhores lembranças de qualquer lugar e espaço onde já habitei. Era ali que ao fim da tarde - neste mesmo horário - eu saía da sala e ia tomar um café e fumar um cigarro, hora proseando ou articulando, sob a proteção e o segredo das palmeiras. Só não podia imaginar que fosse presenteado - junto com cada um cada que estava naquela hora no Pátio do CAAP - com um riscado céu multicolorido.

A epígrafe deste post e uma interrogação colocada acima é perfeitamente compreensível e possível de ser respondida, depois de ouvir, sentir, falar, e viver cada instante naquela tarde no velho espaço - no instante que a faculdade iniciava as comemorações dos seus 120 anos - (a) lumiar, os 20 anos do centenário, ver em frente a geração viramundo com o arrepio na pele de quem já o sentiu. Mudam, os estilos, as formas, as linguagens, as idéias, as causas. Isso é necessário. Fundamental. Mas não mudam os sentimentos de quem sabe e sente a temperatura, a delícia do refresco, o peso da água em tempo de cheia, o cheiro, a cor, as correntezas, a mansidão do regaço e os redemoinhos invisíveis dos que um dia nadaram nesse rio.

Naquela tarde, Lucas Gelape, Tesoureiro da Gestão "Lumiar" 2011/2012 - prestou contas digna e conforme o regimento;  Yuri Alexandre, Presidente do CRT (Conselho dos Representantes de Turma) - cumpriu sua função estatutária; Thalles Mello Batista Pieroni, Vice-Presidente da Gestão "Lumiar" 2011/2012 - falou de forma bela e poética  dizendo do "significado do rio para ele" e agradecendo (vertendo lágrimas em sua namorada, que estava assentada ao meu lado);   Letícia Birchal Domingues, Presidenta da Gestão "Lumiar", que de forma serena, alegre, firme e com olhos e semblante de quem sabe ter cumprido fielmente o mandato conferido pelos estudantes da "Vetusta", falou emocionada e agradecida; seja bem vinda Letícia! E, Felipe Gallo da Franca, Presidente da Gestão "Viramundo" 2012/2013 - falou com alegria, entusiasmo - essa palavra forte de matriz grega -  iniciando formalmente sua travessia na presidência do CAAP com um discurso de paixão. Pois que seja; ele, seus colegas de gestão e as muitas gerações que ainda vierem. Como já foi. 

E foi assim que naquela tarde eu posso dizer como o velho Timbira que Gonçalves Dias consagrou no seu I Juca Pirama: "Meninos, eu vi!"    


* Eu dedico este texto a Ana Eduarda Morais - a Duda - candidata a presidente na chapa que disputou conosco as eleições para a gestão do CAAP 1991/1992  (ou Duda, a Bela, conforme descreveu o escritor Roberto Drummond em uma de suas crônicas, no jornal Hoje em Dia, após um bate papo promovido por nós do CAAP em 1994, no "Aquário", e que se estendeu noite adentro - primeiro na Cantina do Lucas e depois em cima dos Arcos do Viaduto de Santa Tereza, ela, eu e mais quatro amigos, na presença dele - Roberto Drummond e do inesquecível e querido, meu e dela, Professor José Alfredo de Oliveira Baracho - nosso Diretor da Faculdade no seu Centenário em 1992). Isso dá assunto para um texto enorme, mas agora quero registrar isso aqui:  se em 1991/1992 estávamos em campos opostos, noutro tempo e em outra gestão, "Diretas Já!" 1993/1994, estivemos juntos. Ainda que isso não tivesse ocorrido, a disputa de 1991 nunca nos separou. A Ana Eduarda (Duda), mulher, militante, hoje - mãe, sempre foi uma figura linda. Ser humano, limpo, do bem, da paz, que sempre mereceu meu respeito, meu afeto e minha amizade e de quem sempre recebi reciprocidade sincera. A Duda também sabe e sente o "significado deste rio."







         













domingo, 25 de novembro de 2012

O tempo dos homens e o tempo da justiça 

"Rumo
Que rumo dar à minha vida,
Eu me pergunto
   para eu mesmo responder:
Que tal começar desconfiando
De tudo que nega o prazer?"
          
Carlos Ayres Britto,
in A Pele do Ar




Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto, ministro do STF - Supremo Tribunal Federal - desde 25 de junho de 2003, encerrou sua passagem pela corte no dia 16 de novembro exercendo por 210 dias a presidência da nossa instância suprema e do CNJ - Conselho Nacional de Justiça. Ao seu estilo, desde a posse - vide seu discurso a época e sua recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo após sua aposentadoria compulsória (link abaixo) - buscou impor a sua visão de mundividência da justiça e do direito, sua firmeza e serenidade - "derramento de bilis não combina com a produção de neurônios" -, mantendo sempre seu espírito de jurista e magistrado moderno, no credo de que o mundo do direito e da justiça não estão nem além nem aquém da moldura da lei,  porque comprende que antes de ler os autos e a lei, há que se aprender a ler o mundo em sua máxima plenitude. 

Durante seu curto mandato na administração do STF colocou em pauta e fez o colegiado julgar a ação penal 470 - o chamado "crime do mensalão" - com a finalidade de que a prescrição, o tempo, não alcançasse alguns dos réus indiciados na ação proposta em 2007 pelo chefe da Procuradoria Geral da República. 

Joaquim Benedito Barbosa Gomes, ministro do STF desde 25 de junho de 2003, foi o ministro relator da ação penal 470 - trabalhando contra o tempo da prescrição, ainda que em alguns instantes a pressa em se fazer justiça talvez possa ter atropelado o tempo do Direito - iniciou seu mandato na presidência da instância suprema e do CNJ no dia último dia 23 de novembro, quando prestou juramento. Em seu discurso de posse, (link abaixo), registrou para os anais do tempo: “A noção de justiça é indissociável da noção de igualdade. Quando se associam justiça e igualdade, emerge o cidadão".

O simbolismo da sua posse e da frase direta pronunciada em discurso de tempo curto, sinalizam seu estilo e  propõe breve reflexão: 

Se a noção de justiça é indissociável da noção de igualdade - no que concordo inteiramente, e diante desta associação emerja daí o cidadão, no que também concordo, outra conclusão não há, senão a de que o tempo da Justiça e do Direito prescisam se aproximar do tempo dos homens.

Acúmulo de processos que repousam nas prateleiras das varas, fóruns e tribunais, insuficiência de pessoal, magistrados e membros do ministério público desidiosos e improbos, chicanas de advogados do estado e de advogados privados - na maioria os mais bem remunerados -, desigualam a noção de Justiça e do Direito.

De outro lado, a tentativa de afastar o ministério público das investigações com a aprovação pela Câmara dos Deputados da PEC 37, quando todos sabemos -  por acúmulo de serviços, falta de pessoal, incapacidade, desidia e improbidade - os inquéritos e investigações conduzidos pela polícia andam a passos de internet discada ou são enterrados no concreto de um novo mineirão ou independência.     

Respeitando a Constituição que consagra como direito fundamental o devido processo legal, o amplo direito a defesa, necessário é encontrar a saída urgente para que possa emegir, de fato, o cidadão; pois como escreveu Drummond:  
"Esse é tempo de partido, tempo de homens partidos.[...] Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei".[...]
Volta e meia se propagandeia semanas de "mutirão" e "conciliação" promovidas pelo CNJ com apoio da OAB que em anos eleitorais "surfa na onda" e depois volta para debaixo da barraca de sol na areia da praia. Conciliação que a Justiça do Trabalho faz cotidianamente. O mutirão e a revisão de processos - feitos permanentemente pelos tribunais de justiça dos estados - poderiam "amenizar" a situação criminosa do sistema carcerário e penitenciário do nosso país. O fortalecimento das Defensorias Públicas com o aumento dos seus quadros, corpo técnico, equiparação dos vencimentos com os dos Procuradores dos Estados, é urgente para que o acesso a justiça se associe a igualdade e emerja para o cidadão.

O julgamento da ADIN dos precatórios pelo STF - que Ayres Britto queria colocar em pauta durante sua gestão e o tempo não permitiu - é exemplo deste descompasso entre o tempo da justiça e o tempo dos homens. Os "leilões" de precatórios é das figuras jurídicas mais monstruosas que vi criadas nos últimos tempos. O credor do Estado, com sentença transitada em julgado, depois de esperar anos pelo título judicial,  tal qual um dependente químico fissurado, necessitado, endividado, doente e na maioria da vezes vendo o tempo biológico se esvair como uma ampulheta, fragilizado, se rende.

Mas há esperança e novos tempos se aproximam. Os crimes eleitorais, em que os processos duravam quase o tempo do mandato daquele que se atacava, viciado por alguma ilegalidade cometida durante o período eleitoral, agora duram o tempo razoável. Merece aqui o registro da passagem do ministro Enrique Ricardo Lewandoswski na presidência do TSE - Tribunal Superior Eleitoral, entre 2010 e março de 2012, quando foi firme e decisivo para a validade da lei da "Ficha Limpa" nas eleições de 2012. Esse foi um dos instantes - como foi o julgamento Ação Penal 470 - onde o tempo do homens e o tempo da justiça se encontraram. A sombra e o sol. Que seja assim doravante; justiça e igualdade associadas para emergir de fato o cidadão em sua plenitude conforme quer a Constituição, que também sentiu necessidade de falar do tempo ao incluir em seu  art 5°, o inciso LXXVIII.

Links:

Discurso de posse Ayres Britto:

Entrevista Folha de São Paulo 25/11/2012:

Discurso de Posse Joaquim Barbosa (vídeo):
http://migre.me/c4g6u

Notas: 1- Sombra e Sol - Foto do Autor- in, Fazenda Santa Terezinha, Faria Lemos - MG
           2- Carlos Drummond de Andrade - in, Nosso Tempo, A Rosa do Povo.


                                                                            ***
Consertinhos:

I- No post de estréia cometi um erro de conteúdo, que me desculpo e corrijo agora. 

Escrevi no segundo parágrafo: 

[...] " Verbo que para alguns vem antes, para a felicidade e orgulho dos familiares, e para outros nunca. Mas o tempo, esse chega junto para todos desde o nascimento."

O Verbo prescinde da capacidade da fala e da escrita. Incluo os sinais que os portadores de deficiência dominam magnificamente. E o signo; que os artistas - e  todos que desenvolvem esta sensibilidade - idem.   

II-  Como o link que indiquei no post de estréia já não trazia algumas músicas segue um de uma canção que gosto muito e repito sempre que posso - pela letra e pela música - nos espaços que compartilho. 



 

 

    

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cada Tempo em seu Lugar

Cada Tempo em seu Lugar

                  

               O tempo é nosso problema - Jorge Luis Borges

                                                                                                 

Vou discordar do evangelho de João. Acho que antes do verbo, no princípio era o tempo.

De toda a travessia vivida, fiquei com a seguinte impressão até agora: sem o tempo de que adianta o verbo? Embora o tempo esteja em tudo o verbo vem depois da existência do tempo, singular para cada ser dotado de razão e sensibilidade. Verbo que para alguns vem antes, para a felicidade e orgulho dos familiares, e para outros nunca. Mas o tempo, esse chega junto para todos desde o nascimento.

Escrever sobre o tempo - não sei porque fui me meter em assunto tão complicado logo no post de estréia - é coisa difícil, tortuosa, instigante. É o tema mais discutido no percurso da filosofia, junto com as questões do nascer, viver, morrer e da eternidade, na teologia e nas religiões - todas elas transversais ao tempo. Mas enfim, tenho admiração, respeito e fixação pelo tema. Me arrisco, pois aqui não se trata de texto acadêmico, e embora longe dos meus livros, sou "facilitado" porque vivo no tempo onde existe o calendário, o relógio, a fotografia, o video, o cinema, o computador, a internet, o google, a linha do tempo da rede social, a vida em tempo real. A minha memória.

Consertar o tempo é impossível. Coisa imaginável somente para relojoeiros - como foram meu bisavô e avô maternos (me lembro do filme a Invenção de Hugo Cabret). Me contento em concertar. Concertação é palavra que gosto. Concertar o tempo é uma tentativa de me harmonizar com ele. Por isso o nome desse espaço de tempo. 

Com o apoio da frase do Borges que escolhi como epígrafe, (ou bengala), me lembro agora - olha o tempo aí de novo - de autores, artistas que trataram desse nosso velho camarada; e em busca rápida vão desde o I Ching  - dos Chineses, no devir/fluir de Heráclito, no Eclesiastes 3 - que aprecio muito - , no livro XI das Confissões de Agostinho, no Ser e Tempo de Heidegger, no espaço/tempo de Einstein e a descoberta da física quântica, no tempo imaginário de Stephen Hawking, na obra de Freud e Lacan, a criação e refundação da psicanálise, a sincronicidade de Jung, a música de Bach, os clássicos dos Beatles: Yesterday, Let Be, A Day in The Life, o Surrealismo e A persistência da Memória de Dalí, a fotografia de Cartier Bresson, Roland Barthes e o estudo da fotografia, a pop art de Andy Warhol, Matrix - o filme. 

Para não dizer que não falei das flores, esperar é saber: o Grande Sertão:Veredas é uma obra permeada  sobre a questão do tempo. Érico Veríssimo nos legou o Tempo e o Vento, Fernando Sabino o seu Encontro Marcado, Carlos Drummond de Andrade os poemas Nosso Tempo, O tempo passa? Não Passa, Os ombros suportam o mundo, e tantos outros poemas nas fases, (tempos), dele, Drummond. Bartolomeu Campos de Queirós - que sempre me estimulou a tirar os escritos da gaveta -, em seu filosófico e poético livro com ilustrações inspiradas no surrealismo: Tempo de Voo. A arte de Arthur Bispo do Rosário produzida nos seus tempos de isolamento. A monumentalidade no tempo dos traços de Niemeyer.

Sem muita firula e "simplificando": o tempo é a medida da nossa existência, da nossa memória, do que fomos e do que somos. Feitos e refeitos pelo tempo. A regra do bem viver é florir e frutificar feito laranjeira, mangueira, bananeira, capim gordura, feijão; nas chuvas, na vida irrigada. No estio, mandacaru. Imprevisível o tempo. Ele anda surpreendendo tanto, né? Ora, chove demais. De repente, longa estiagem, seca. Natureza, vida, existência aprendem a se adaptar e florir como o mandacaru. Resistimos.

Então uma das possibilidades é negociar com o tempo. Conciliar, harmonizar. Propor a concertação do tempo lógico - dos calendários e dos relógios, com o tempo ilógico: da filosofia, da física e da metafísica, do inconsciente, da atividade e do trabalho que se faz por paixão - onde não há necessidade de conserto porquanto transcende horas e datas; o tempo de estar junto com quem a gente ama e de quem a gente gosta, o tempo que dura o antes, o durante e o depois do sexo bom, o tempo do onírico, da fantasia; viajar sem compromisso, mudar de estrada, contemplar a natureza, prosear com gente bacana, ficar quieto, ler bons livros, fotografar aquele instante, ouvir boa música, plantar e cozinhar o próprio alimento, escrever, reescrever, iniciar um blog, momentos de epifania, dormir, sonhar e acordar. Formas de driblar a rudeza deste senhor tão bonito.

Concertadas as palavras encerro por aqui para não alongar e tomar mais tempo do leitor e colaborador que quero cultivar. Dizem que time is money. Será?  

 

  A que veio o Blog?

Duas palavras definiam o tempo para os gregos antigos: chronos e kairós. Enquanto a primeira referia-se ao tempo cronológico (ou sequencial) que pode ser medido, essa última significava “o momento certo” ou “oportuno”: um momento indeterminado, inteiramente interior, no tempo em que algo especial acontece.

Aproveito então 2012 - mais um ano que não terminou - para entrar na blogosfera. Leitor de livros, das coisas, da vida e ignorante por minha por própria conta - como gosto de me apresentar - pretendo que o tempo e lugar deste blog seja um ponto de encontro para compartilhar idéias, convergências, divergências fraternas, espaço para o diálogo; e para o embate se necessário.

A prosa é - mais ou menos - diversa,  como são meus interesses: curtir o tempo, pessoas, cotidiano, trivialidades, política: internacional-nacional-estadual-paroquial, direito, administração pública, midia, educação, meio ambiente, indios, mata e montanha, rios, ribeirões e mar, livros, coisas do rosa, quixote e quixotices,  filosofia, ética, saúde, psicanálise, espiritualidade, fotografia, imagens e ilustrações, humor e bom humor, culinária, comida, cervejas, vinhos, butecos, música, discos, artes, futebol, flamengo, esportes, cinema, cidades, ciências, arquitetura, urbanismo, design, flores, antiguidades, tecnologia e o que pintar por aqui. 

No link abaixo, extraido do Blog da Música Popular Brasileira da Revista Rolling Stone, você vai encontrar videos de artistas cantando o Tempo. A canção que mais gosto deu nome a este primeiro post: Cada Tempo em seu Lugar. Obra prima do Gil - que eu já gostava muito - veio a calha, no meu tempo hoje; meio como um "viagra" intelectual.

  Estique mais um tempinho aí:     

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