domingo, 12 de agosto de 2018

A Educação, o Alimento, o Direito e os Sinos




Começo por registrar que no 11 de agosto se celebra a criação dos cursos jurídicos nacionais. Denominou-se daí em diante, no Brasil, o dia do Advogado. Também se celebra nesta data o dia do Estudante e dia do Garçom. Somos, e escrevo na minha condição, um pouco disso tudo. Sugerimos de forma discreta ao juiz, aos professores e ao cliente famélico os argumentos que lhe deem razão, de forma que estes se convençam de os ter encontrado por conta própria.

O surgimento dos primeiros cursos jurídicos no Brasil ocorreu em 11 de agosto de 1827 com a criação de duas Faculdades de Direito: uma em Olinda, que deu origem à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco e outra em São Paulo que deu origem à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, forjadas e criadas também por gente de sobra do Colégio Caraça - Catas Altas/MG.

Dado isso e para ser inovador – é preciso conhecer o passado, compreender o presente, daí, imaginar futuros, ensina Mestre e Professor Arthur Diniz. Um pouco, talvez, do que sabem as pessoas da área das Ciências Humanas ou Humanidades e outras que se somam nos saberes interdisciplinares – Educação, Pedagogia, Letras, Filosofia, História, Ciências Sociais, Arqueologia, Teologia, Estudos Literários, Geografia, Serviço social, Direito e História – denominam “Paidéia”. Gosto hoje de nomear, esse tronco, por Arqueologia do Agora, Direito Quântico, Filosofia Perene.

Escrevo,  suponho, cogito e falo, de forma breve - a essência, feixe de luz, átomo, faísca quântica, sol e sombra, para a energia deste texto e sua pretensão que saltará aos olhos do leitor, antes da conclusão - a partir destas duas condições: passado e presente, intuição, imaginação, esperança, arqueologia do agora, prospecção de futuros. Cada pessoa, leitor, ser humano, cidadãos, homens e mulheres dos direitos, todos intuímos futuros desde que razoavelmente convencidos que todo futuro é agora; fugaz, já passou. Por exemplo, na leitura imediata desta letra – signo - que adorna e sinaliza a fala, a escrita; a palavra.

Na nomeação do que se chama de efemérides; datas e ocasiões que celebram pessoas, instituições e acontecimentos, o 11 de agosto é dia, dos Estudantes, Advogados e Garçons, e o segundo domingo do mês de agosto, celebra o "Dia dos Pais", Circunstâncias e fatos tocantes, como os sinos que chamam à reflexão e inflexões. Ad perpetuam rei memoriam, é o brocardo latino que significa: (para a lembrança ou memória do fato/acontecimento).    

Permitam-me a atenção para contar breves fatos ocorridos comigo da aldeia e da oca de onde falo, agora. Sou meio índio. Nasci em 12 de dezembro, filho de Lucio e Eliane, no dia da Senhora de Guadalupe, Madroeira do México, da América Latina e dos Índios. Casa em frente aos “ferrinhos” da Rua Santa Luzia 141. Permanecemos lá, uma calçada de pedra firme, nos reune, pai e mãe, família, na casa de número 165. Doze ou meia dúzia, que diferença faz? 

Numerologia, sabedoria, a memória e o conhecimento autodidata, fazendário, financeiro fiscal e aduaneiro, servidor público da receita estadual, é coisa de meu avô paterno. Artesanato, lápis, escrita gravada, alianças, medalhas, óculos e relógios; consertar e concertar, a paciência e o tempo, comungar pessoas e família, veio do avô materno. Os dois avós tiveram as convergências necessárias e suficientes para construir raízes fortes, ainda que balançadas pelos naturais imprevistos e intempéries da vida. O ciclo da vida. A luta das espécies. O criacionismo de Darwin com grãos de tradições espirituais e éticas. Sustentaram o tronco, ao estilo da "Árvore de Ulpiano", como ensina a boa Introdução ao Estudo do Direito. Os galhos e ramos permanecem brotando. São e foram árvores. Madeira que cupim não rói. Braúna e Jequitibá firmes.  

Relato breve, ou quase breve, na boa metodologia da arqueologia (ciência que, utilizando processos como coleta e escavação, estuda os costumes e culturas dos povos antigos através do material (fósseis, artefatos, monumentos, escritos etc.) e o que restou da vida desses povos, pessoas e tradições. Sem estranheza, leitoras e leitores, sigo a contar e me comunicar. Quem não se comunica se estrumbica. O velho guerreiro está vivo e na essência individual deste escriba, presente.   

Por curiosidade, necessidade, formação, escolha e boa educação, sou desde menino, estudante da Natureza, da Educação, da Filosofia, do Direito, da Política e das Artes, da Matemática e das Ciências Naturais e Humanas; Humanidades. Do imemorial, Minguinho (pré-escolar), onde me alfabetizei, ao estudante de Escola Pública, em Carangola/MG, no Grupo E.E Melo Viana, (com o seu sino do pátio que chamava a todos, ao alimento e às datas e instantes necessários, começo e fim das aulas, alegrias, vitórias, lutos, merenda escolar na cantina, por professoras/servidoras da educação, cozinheiras, alimentadoras de saber e entusiasmo, do corpo e da mente, no início e final das aulas) do início do ano escolar em 1976 ao outubro de 1980. 

Prossegui, após passagem pela Escola Servita Regina Pacis de Carangola, ingressei e vivi o ano letivo de 1985 no Curso Promove de Carangola; em seguida, na Escola Estadual João Belo de Oliveira (sem sino, mas de portões abertos a partir de 1986, com boa merenda, amigos, amigas, professores e professoras queridos e determinantes, militantes de boas causas sociais e políticas, comecei a cursar Contabilidade no turno da noite e o curso Científico na parte da manhã). Concluí o ensino médio e preparatórios em Belo Horizonte nos Colégios Roma, Pitágoras, Soma e Companhia da História em 1989. Aprovado e mais bem formado e disciplinado, em seguida ingressei em 1990, por vestibular, e me formei em 1999 na Faculdade de Direito da UFMG, sob o Sino do Samuel.

Criada em 1892, em Ouro Preto/MG, muito e também, como desaguadouro dos valores e princípios do Movimento dos Inconfidentes de 1792. É a terceira instituição de ensino jurídica mais antiga do país. Faço parte, então da última turma do século XX, que consolidou a velha Escola da Praça da República, hoje Praça Afonso Arinos. A Casa de Afonso Pena, a Vetusta – chamado carinhoso - de muitos de seus filhos e filhas, nas suas diversas condições e circunstâncias. Noutro tempo e espaços, concerto e palavro mais sobre ela, a Vetusta, e todas as Escolas por onde andei.

Me permito pedir toda a sua atenção leitor para estes acontecimentos, porque ao contrário do que é corriqueiro, as lições, reflexão e o chamamento extraíveis do texto, como diz em texto inspirador o José Saramago, “não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-à ao rosto, não tarda”.

Os sinos – campânulas de bronze – do latim, signum, sinal, são dispositivos de produção de sons, tendo como função básica, a percussão, além da função espiritual e a sinalização. Basicamente, seu formato é o de cone oco que ressoa ao ser golpeado por um badalo, ou martelo, incluído dentro do sino ou em “malho”, peça separada.

Além da estrutura sonora, os sinos também são compostos por uma estrutura de madeira  ou de ferro que serve como contrapeso (além de proporcionar uma beleza artística), caracterizando o conjunto como uma estrutura complexa e composta por diversas partes, móveis e fixas, ensina o manual do IPHAN - Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (anunciado por iniciativas de um carioca, o Alceu Amoroso Lima e de Rodrigo Melo Franco de Andrade, mineiro de Belo Horizonte), entendendo os sinos e o barroco mineiro.

O planeta, o Brasil, Minas Gerais, as pessoas, neste nosso tempo, vivem e pensam; existem e resistem. Somos quase 7 bilhões de cabecinhas no planeta terra. Cada uma com sua história para contar. Indivisíveis nas nossas subjetividades, únicos e inteiros na totalidade da condição de indivíduos que vivem, por nascimento, regra e escolha em sociedade, tribos, clãs e famílias. Cidades. Mas o que se passa, qual questão que agita os tempos modernos, era da nanotecnologia, do tempo real, da física quântica, do mundo digital e por isso tudo, tempo e estar de modernidade líquida, como pensou e escreveu Zygmut Bauman. A tal sociedade em Rede do Manuel Castells. Redes de indignação e esperança, redes que aproximam e alienam. Redes que se comunicam e às vezes não sabendo usar, se trumbicam. De certo, polifônicas. Babilônicas, eis a questão! E então, educadores, estudantes, advogados e garçons - pequenos portos, pontilhões, pontes, povo, qual a causa, a questão do agora?  

Há uma angústia sentimento de desrazão e sensibilidades reinantes no tempo hoje. Tempos difíceis, vivemos todos. O embate entre a liberdade e o poder. Imaginem os miseráveis, nessa batalha! Primeiro viver depois filosofar, há quem diga. Divirjo respeitosamente. Creio na convergência do pensar e do agir. na possibilidade de uma concertação polifônica, que se estabeleça no espaço público, mediada e construída pela Política. Ação e razão sensível, críticas. Formar e educar, crianças, jovens e adultos, para a ação, o pensamento, para a vida na República. Alimento e agua servidos para todos, na diversidade e gratuidade. Dar tempero aos alimentos uma das receitas do livro I na República de Platão. Nos moldes de uma comunidade de iguais e diferentes. O mínimo existencial. Que haja pão, e haja agua e tempero para os alimentos. Educação integral para a cidadania. Política e Mística: Homo Politicus


Pouca coisa é necessário para esse diapasão. O povo brasileiro é bem educado, vai além do homem cordial do Sérgio Buarque de Holanda. Falta algo certamente. Nada colonizado. O caminho para a solução está aqui entre nós. Entre esses nós e algos, a formação humanista e de matemática/física e química, formação para o esporte e para a cultura. Junto e em conjunto, ler pensar e entender por meio de estudos da vida política brasileira a partir do sistema do coronelismo, que Victor Nunes Leal, no seu clássico "Coronelismo Enxada e Voto" considera como sistema político. Atualíssimo. Chefes políticos, proprietários de terras, senhores do bem e do mal, os coronéis - os do século XXI estão aí a solta e a toda e são proprietários ou prepostos de outros senhores, bens e coisas - são figuras marcantes na história e na prática política brasileiras. Como se faz e como se desmonta oligarcas e coronéis, chefes partidários que se aproveitam do sentimento popular até hoje? Dou o sino e o malho. 

Noções de Coisas como escreveu o Darcy Ribeiro e do modo que formularam aqueles filósofos Pré-Socráticos que vieram antes. Intuição, saberes básicos dos pontos de mutação, Tao. O pensamento oriental modernamente descrito e formulado por Fritjoj Capra. O método ver, julgar e agir dos grupos de base, do Jorge Boran. O senso crítico. Olhar, escutar, perceber as coisas, os sons e sinais que estão ao redor; e cuidar bem. O resto virá por acréscimo, como diz, escreve e ensina, Lucio Moyzes Mattos.

Os sinos dos educadores, dos advogados, dos garçons, dos mais diversos ofícios, trabalhadores das causas e saberes pela construção e defesa da liberdade, da democracia, da ecologia , da diversidade e dos Direitos Universais, precisam tocar, badalar mesmo. Se precisar nós, pai e filhos, ajudamos com o “malho”, tocando juntos em corda, chamamento tipo de mãe e pai, de manes, biológicos ou não; irmandade fraterna. O sino é a lingua portuguesa, com outras linguas e sotaques, é evidente, e com a matemática como mátria e fátria. Para compreender o presente e imaginar o futuro é necessário conhecer o passado. O malho é a ação Política. 

Vamos voltar no tempo, corsi e ricorsi, como ensinou o Giambattista Vico, – nasci em 1969, ano de muita coisa boa, década e anos de experimentações, inventividade, transformações; ano de vida em meio a ditadura nacional e pós, AI-5 e o 1968, que dizem não terminou e moldou o século XX, nos costumes e na política do pós segunda guerra. 


Nasço e renasço a cada dia. O saber e o sentir juntos. Veja, o Carlos Drummond de Andrade decifrou os Beatles em 69. O homem humano foi até a lua e pisou nela. Deixou o rastro, a pegada, o signo e sinal. Vamos em frente, pois "se o caminho é rumo ao céu", diz e pergunta um inglês bacana, o Bernard Shaw: "que importa as asas? Levanta e voa!" Ainda e sempre, todo dia, é tempo e hora de construir um país tropical, com direitos realizados, sem fome, saudável, democrático, diferente - vira-lata - mestiço, honesto, desenvolvido, educado, próspero, sustentável, justo e fraterno: civilização e farol do novo mundo. Toco o sino e o malho. Presente.  

P.S.: Dedico este texto, iniciado, pensado e rascunhado no 11/08/2018 aos meus manes, ascendentes maternos e paternos, sanguíneos: Antenor Portilho e Jorge Moyzes, João Hosken e Epaminondas Costa Mattos. Edgard Portilho e Manoel Costa Mattos. Ao meu pai, Lucio Moyzes Mattos que me ensinou, com minha mãe, o caminho de quase tudo; o necessário: deu régua, compasso, bolinhas de gude, luvas de boxe, arco e flecha, terra, fogo, agua e ar, deu educação romântica, amor, paixão pela vida, garra; além de aprender conosco, seus filhos e filhas sempre e também neste dia 12/08/2018, domingo, dia dos pais. Garra! 
                                                                
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