quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cada Tempo em seu Lugar

Cada Tempo em seu Lugar

                  

               O tempo é nosso problema - Jorge Luis Borges

                                                                                                 

Vou discordar do evangelho de João. Acho que antes do verbo, no princípio era o tempo.

De toda a travessia vivida, fiquei com a seguinte impressão até agora: sem o tempo de que adianta o verbo? Embora o tempo esteja em tudo o verbo vem depois da existência do tempo, singular para cada ser dotado de razão e sensibilidade. Verbo que para alguns vem antes, para a felicidade e orgulho dos familiares, e para outros nunca. Mas o tempo, esse chega junto para todos desde o nascimento.

Escrever sobre o tempo - não sei porque fui me meter em assunto tão complicado logo no post de estréia - é coisa difícil, tortuosa, instigante. É o tema mais discutido no percurso da filosofia, junto com as questões do nascer, viver, morrer e da eternidade, na teologia e nas religiões - todas elas transversais ao tempo. Mas enfim, tenho admiração, respeito e fixação pelo tema. Me arrisco, pois aqui não se trata de texto acadêmico, e embora longe dos meus livros, sou "facilitado" porque vivo no tempo onde existe o calendário, o relógio, a fotografia, o video, o cinema, o computador, a internet, o google, a linha do tempo da rede social, a vida em tempo real. A minha memória.

Consertar o tempo é impossível. Coisa imaginável somente para relojoeiros - como foram meu bisavô e avô maternos (me lembro do filme a Invenção de Hugo Cabret). Me contento em concertar. Concertação é palavra que gosto. Concertar o tempo é uma tentativa de me harmonizar com ele. Por isso o nome desse espaço de tempo. 

Com o apoio da frase do Borges que escolhi como epígrafe, (ou bengala), me lembro agora - olha o tempo aí de novo - de autores, artistas que trataram desse nosso velho camarada; e em busca rápida vão desde o I Ching  - dos Chineses, no devir/fluir de Heráclito, no Eclesiastes 3 - que aprecio muito - , no livro XI das Confissões de Agostinho, no Ser e Tempo de Heidegger, no espaço/tempo de Einstein e a descoberta da física quântica, no tempo imaginário de Stephen Hawking, na obra de Freud e Lacan, a criação e refundação da psicanálise, a sincronicidade de Jung, a música de Bach, os clássicos dos Beatles: Yesterday, Let Be, A Day in The Life, o Surrealismo e A persistência da Memória de Dalí, a fotografia de Cartier Bresson, Roland Barthes e o estudo da fotografia, a pop art de Andy Warhol, Matrix - o filme. 

Para não dizer que não falei das flores, esperar é saber: o Grande Sertão:Veredas é uma obra permeada  sobre a questão do tempo. Érico Veríssimo nos legou o Tempo e o Vento, Fernando Sabino o seu Encontro Marcado, Carlos Drummond de Andrade os poemas Nosso Tempo, O tempo passa? Não Passa, Os ombros suportam o mundo, e tantos outros poemas nas fases, (tempos), dele, Drummond. Bartolomeu Campos de Queirós - que sempre me estimulou a tirar os escritos da gaveta -, em seu filosófico e poético livro com ilustrações inspiradas no surrealismo: Tempo de Voo. A arte de Arthur Bispo do Rosário produzida nos seus tempos de isolamento. A monumentalidade no tempo dos traços de Niemeyer.

Sem muita firula e "simplificando": o tempo é a medida da nossa existência, da nossa memória, do que fomos e do que somos. Feitos e refeitos pelo tempo. A regra do bem viver é florir e frutificar feito laranjeira, mangueira, bananeira, capim gordura, feijão; nas chuvas, na vida irrigada. No estio, mandacaru. Imprevisível o tempo. Ele anda surpreendendo tanto, né? Ora, chove demais. De repente, longa estiagem, seca. Natureza, vida, existência aprendem a se adaptar e florir como o mandacaru. Resistimos.

Então uma das possibilidades é negociar com o tempo. Conciliar, harmonizar. Propor a concertação do tempo lógico - dos calendários e dos relógios, com o tempo ilógico: da filosofia, da física e da metafísica, do inconsciente, da atividade e do trabalho que se faz por paixão - onde não há necessidade de conserto porquanto transcende horas e datas; o tempo de estar junto com quem a gente ama e de quem a gente gosta, o tempo que dura o antes, o durante e o depois do sexo bom, o tempo do onírico, da fantasia; viajar sem compromisso, mudar de estrada, contemplar a natureza, prosear com gente bacana, ficar quieto, ler bons livros, fotografar aquele instante, ouvir boa música, plantar e cozinhar o próprio alimento, escrever, reescrever, iniciar um blog, momentos de epifania, dormir, sonhar e acordar. Formas de driblar a rudeza deste senhor tão bonito.

Concertadas as palavras encerro por aqui para não alongar e tomar mais tempo do leitor e colaborador que quero cultivar. Dizem que time is money. Será?  

 

  A que veio o Blog?

Duas palavras definiam o tempo para os gregos antigos: chronos e kairós. Enquanto a primeira referia-se ao tempo cronológico (ou sequencial) que pode ser medido, essa última significava “o momento certo” ou “oportuno”: um momento indeterminado, inteiramente interior, no tempo em que algo especial acontece.

Aproveito então 2012 - mais um ano que não terminou - para entrar na blogosfera. Leitor de livros, das coisas, da vida e ignorante por minha por própria conta - como gosto de me apresentar - pretendo que o tempo e lugar deste blog seja um ponto de encontro para compartilhar idéias, convergências, divergências fraternas, espaço para o diálogo; e para o embate se necessário.

A prosa é - mais ou menos - diversa,  como são meus interesses: curtir o tempo, pessoas, cotidiano, trivialidades, política: internacional-nacional-estadual-paroquial, direito, administração pública, midia, educação, meio ambiente, indios, mata e montanha, rios, ribeirões e mar, livros, coisas do rosa, quixote e quixotices,  filosofia, ética, saúde, psicanálise, espiritualidade, fotografia, imagens e ilustrações, humor e bom humor, culinária, comida, cervejas, vinhos, butecos, música, discos, artes, futebol, flamengo, esportes, cinema, cidades, ciências, arquitetura, urbanismo, design, flores, antiguidades, tecnologia e o que pintar por aqui. 

No link abaixo, extraido do Blog da Música Popular Brasileira da Revista Rolling Stone, você vai encontrar videos de artistas cantando o Tempo. A canção que mais gosto deu nome a este primeiro post: Cada Tempo em seu Lugar. Obra prima do Gil - que eu já gostava muito - veio a calha, no meu tempo hoje; meio como um "viagra" intelectual.

  Estique mais um tempinho aí:     

  http://migre.me/bJVWi